Associação Brasileira dos Jornalistas

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ABJ 16 ANOS: Da Censura à Inclusão: A Consolidação do Jornalismo Livre e Plural no Brasil

1. Da Ditadura Militar à Obrigatoriedade do Diploma

Com o golpe de 1964, o regime militar impôs medidas severas de controle da informação e da profissão. O Decreto-Lei nº 972, de 17 de outubro de 1969, tornou o diploma de jornalismo obrigatório – estratégia encarada como mecanismo de exclusão política, especialmente de opositores e vozes consideradas subversivas.

Jornalistas notáveis, como Cláudio Abramo, foram críticos desta regra, defendendo que jornalismo é, antes de tudo, prática, ética e inteligência – e não simplesmente um título acadêmico, sobretudo em um país de acesso restrito à universidade.

2. A Constituição de 1988: Avanço na Liberdade de Expressão

Ao garantir a liberdade de manifestação, criação e informação no capítulo da Comunicação Social, a Constituição de 1988 avançou para a democratização da mídia. Apesar disso, manteve-se a obrigatoriedade do diploma, o que motivou discussões e movimentos nas décadas seguintes.

3. Judicialização do Debate e Decisão do STF

Em 2001, o Ministério Público Federal demandou, com respaldo em tratados internacionais como a Convenção Americana de Direitos Humanos, o fim da exigência do diploma. Em 17 de junho de 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a obrigatoriedade, declarando-a inconstitucional. O STF julgou que condicionar o exercício do jornalismo ao diploma restringia a liberdade de expressão e era incompatível com os direitos constitucionais e tratados internacionais assinados pelo Brasil.

4. Mobilização por Inclusão e Reconhecimento Profissional

Mesmo antes da decisão histórica, o Movimento em Defesa dos Jornalistas Sem Diploma, fundado em 2005, já questionava o elitismo e defendia oportunidades para talentos vindos de diferentes trajetórias formativas. Esse movimento teve papel fundamental na valorização da diversidade no jornalismo brasileiro.

5. Fundação e Papel Transformador da ABJ

Nesse novo contexto, a ABJ nasce em 2009 como resposta à demanda por representação igualitária. A associação atua como promotora de capacitação, direitos e inclusão, amparando jornalistas diplomados ou não, e combatendo toda forma de discriminação no campo profissional.

6. Conquistas Legislativas e Jurídicas

  • Atuação ativa no Congresso, garantindo que tentativas de restabelecer a obrigatoriedade do diploma fossem rejeitadas.

  • Pareceres jurídicos de ex-ministros do STF, confirmando o caráter inconstitucional dessas tentativas.

  • Avanços tributários: A luta vitoriosa pela inclusão de jornalistas no SUPERSIMPLES e no Microempreendedor Individual (MEI), facilitando a vida de profissionais autônomos e pequenos empreendedores do setor.

7. Novos Rumos: O CEBRAJOR e a Sustentabilidade da Profissão

O Centro Brasileiro de Jornalismo sem Fins Lucrativos (CEBRAJOR) surge como apoio à formalização e sustentabilidade de iniciativas de jornalismo sem fins lucrativos, independente e coletivo, com foco em autonomia, inclusão e menor carga tributária.

Consolidando o Jornalismo Livre: Brasil no Contexto Internacional

O Brasil atualmente assegura o exercício da profissão de jornalista sem a obrigatoriedade do diploma específico – modelo consolidado desde 2009 e referenciado internacionalmente. Essa abertura amplia o pluralismo, ao passo que mantém a busca por qualidade e ética profissional.

Comparativo Internacional: Exigência de Diploma na Profissão de Jornalista

País Diploma Específico Obrigatório? Observações
Brasil Não Autorização para formados e não-formados após decisão do STF (2009).
Estados Unidos Não Qualquer formação; atuação baseada em competências e portfólio.
Reino Unido Não Não há regulação estatal sobre a profissão; ética é autorregulada.
França Não Carteira profissional pode ser obtida por experiência no meio.
Alemanha Não Sistemas de formação próprios de cada empresa, sem exigência estatal.
Itália Sim (parcialmente) Registro profissional exige diploma em alguns casos.
Portugal Não Diploma não é obrigatório, mas cursos de jornalismo são valorizados.
Argentina Não Aboliu a exigência; jornalismo também não é profissão regulamentada.
México Não (desde 1976) Decisão judicial aboliu qualquer restrição formal.

Conclusão

A trajetória da ABJ e do jornalismo brasileiro é um exemplo de resistência ao arbítrio e de promoção da inclusão. O país consolidou a liberdade do exercício da profissão de jornalista, sem exigência legal de diploma específico, o que alinha o Brasil com democracias consolidadas do mundo e favorece a pluralidade, a liberdade de expressão e a inovação no fazer jornalístico.

A ABJ permanece firme na missão de fortalecer o jornalismo independente, transparente e diverso – valores essenciais para uma sociedade democrática e soberana.

FOTO: O jornalista Cláudio Abramo, 40 anos de profissão sem diploma de Jornalismo. Abramo escreveu várias vezes: ‘Para ser jornalista, é preciso ter uma formação cultural sólida, científica ou humanística’. Não é o diploma de Jornalismo, com certeza, que vai garantir está sólida formação.

FONTE DA FOTO https://www1.folha.uol.com.br/folha-100-anos/2020/10/claudio-abramo-ajudou-a-renovar-folha-nos-anos-turbulentos-da-ditadura.shtml

FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas ( Reprodução autorizada mediante citação da fonte: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas )