Durante o recente e emblemático encontro no Alasca entre Vladimir Putin e Donald Trump, a expressão “Pursuing Peace” (“Em busca da paz”) estampava as paredes do auditório, emoldurando todo o evento em uma aura de diplomacia e esperança. Para o grande público, parecia o cenário ideal para um novo capítulo na tentativa de resolver o conflito no leste europeu. Mas, para quem acompanha a história recente com senso crítico, aquilo mais se assemelha a um espetáculo de cinema promovido pelo establishment norte-americano.
O Paradoxo do Protagonista “Pacifista”
Como levar a sério o discurso de busca pela paz de quem, poucas horas antes—e há anos—financia, treina e dirige a máquina de guerra ucraniana? O histórico é transparente: desde a crise de 2014, o apoio norte-americano à deposição do governo legitimamente eleito (o chamado “Golpe de Maidan”) funcionou como gatilho para a escalada do conflito. Portanto Washington não apenas sancionou como também turbinou o exército ucraniano, forneceu armas, treinamento, logística e até informações de inteligência. O resultado? Um enfrentamento militar de proporções catastróficas para a região, mas altamente lucrativo para a indústria bélica dos EUA.
É estranho pensar que o mesmo país que vende bombas e mísseis – produtos que matam e alimentam o fogo da guerra – representa agora a face benevolente do diálogo e da reconciliação. Agora, seria como o incendiário posar de bombeiro para a foto final. A política externa dos EUA, conhecida pelos seus interesses econômicos no setor de defesa e sua extensa lista de intervenções mundo afora, evidencia que a paz é, muitas vezes, retórica conveniente e temporária.
Guerra como Modelo de Negócio
A pretensa busca pela paz esconde outro aspecto velado: a dependência da economia americana do complexo militar-industrial. O apoio irrestrito e contínuo a guerras por procuração e intervenções diretas alimenta não apenas orçamentos bilionários, mas também o lucro astronômico de empresas que dominam o cenário armamentista global. O que se vende como “em defesa da democracia” acaba, invariavelmente, por significar clamor por vendas de armas e domínio geopolítico.
A Negociação no Alasca: Putin Não Cai no Jogo
Na mesa de negociações, Putin tem ciência desse jogo duplo e não aceita o simples “cessar-fogo” como solução mágica. A recusa russa é fundamental na exigência de garantias concretas, amplas e rigorosas. Não basta um aperto de mão e uma fotografia sob o letreiro suave de “paz”: é preciso ir além da propaganda e encarar os fatos. E o fato é que, sem a interrupção real do fluxo de armas e da ingerência ocidental, qualquer trégua não passa de intervalo entre dois atos do mesmo espetáculo sangrento.
Trump e o “Pacifismo” de Palanque
Por fim, Donald Trump encarna a hipocrisia por excelência: autoproclama-se líder pacifista, enquanto mantém—ou defende manter—todas as engrenagens da máquina de guerra norte-americana ativa. O “America First” nunca foi sinônimo de menos guerras, mas de guerras em termos mais específicos para os interesses nacionais dos EUA.
A paz realmente exige coragem para desarmar não só soldados nos campos de batalha, mas também empresários e políticos nos corredores de Washington. Enquanto os Estados Unidos continuam sendo o maior vendedor de armas do planeta e negociam a paz sobre montanhas de lucros bélicos, a expressão “buscando a paz” será apenas mais um cartaz bonito em um mundo repleto de hipocrisia ensaiada.
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