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Prêmio Nobel da Paz a María Corina Machado é um chamado ao golpe e à agressão contra a democracia e à paz na Venezuela

A concessão do Nobel a uma golpista e belicista é uma manobra que pode ativar forças externas para uma intervenção militar no país bolivariano.

Por José Reinaldo Carvalho – A escolha de María Corina Machado, líder da extrema direita venezuelana, para receber o Prêmio Nobel da Paz de 2025 merece todas as críticas e condenação dos amantes da democracia genuína e da paz em todo o mundo. Laurear uma notória golpista, propagandista da intervenção estrangeira contra o próprio país, é um claro sinal de apoio a forças desestabilizadoras, divisionistas e intervencionistas, um instrumento de luta política, ideológica e psicológica para legitimar e preparar o terreno a uma intervenção política e militar na Venezuela.

María Corina Machado é conhecida por sua postura extremista contra a Revolução Bolivariana, as conquistas democráticas, populares, de soberania nacional e integração latino-americana promovidas pelos governos do saudoso Comandante Hugo Chávez e do presidente legítimo e  constitucional Nicolás Maduro.

Ela foi uma das signatárias do Decreto Carmona, que em 2002, durante o golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez, dissolveu a Assembleia Nacional e suspendeu a Constituição, fato que colocou a sua imagem em contradição com a narrativa oficial de luta pela democracia no país. Além disso, sua atuação política em todos os momentos subsequentes foi marcada por posições e ações típicas da extrema-direita tanto dentro quanto fora da Venezuela, o que é revelador do seu antagonismo com os valores da paz, da democracia e dos direitos humanos.

A premiação de Corina Machado ocorre em um contexto de crescentes ameaças à integridade territorial e à soberania nacional do país. A Venezuela é há décadas alvo de um intenso bloqueio econômico unilateral promovido pelos Estados Unidos, por meio de  sanções que, além de prejudicar diretamente a população, têm sido usadas como uma ferramenta política para minar o governo de Maduro.

A premiação de Corina Machado tem por evidente finalidade  preparar o terreno ideológico e psicológico para favorecer uma intervenção. As implicações dessa premiação são profundas, pois, ao ser premiada, María Corina Machado vai tentar legitimar-se aos olhos da opinião pública e da comunidade internacional, a fim de angariar apoio para a perpetração de ações externas, pressões diplomáticas, atos de ingerência ou até mesmo uma intervenção militar direta.

Desde que a Revolução Bolivariana se tornou vitoriosa com a eleição de Hugo Chávez, em 1998, a Venezuela tem enfrentado constantes tentativas de desestabilização, que vão desde o golpe fracassado de 2002, sabotagens às eleições, questionamento de resultados eleitorais, provocação de distúrbios que acarretaram a destruição de patrimônio público e mortes de inocentes, o  apoio explícito a figuras como Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente em 2019, até as sanções econômicas e o apoio de potências externas a intentonas de “mudança de regime”.

A nomeação de María Corina Machado ao Nobel da Paz tem o potencial de ser utilizada como um “gatilho” para justificar ações mais agressivas contra o governo venezuelano. O reconhecimento de figuras como Corina Machado é um movimento coordenado para fortalecer a narrativa de que a democracia e a estabilidade só seriam possíveis com a derrubada do atual governo.

O Prêmio Nobel da Paz sempre teve um peso simbólico imenso na arena política internacional. O reconhecimento de figuras que buscam paz e estabilidade globalmente pode ser uma poderosa ferramenta de mobilização política para a paz e o progresso da humanidade, mas quando é concedido a figuras execráveis por seu explícito engajamento em atos de traição nacional e lesa-humanidade, pode ser usado para tentar produzir consenso em torno de causas abomináveis. A premiação pode ser vista como uma espécie de endosso indireto a um movimento que defende a “restauração da democracia” na Venezuela através de uma intervenção externa e de um movimento interno que provoque instabilidade e fragmentação.

O prêmio pode ser usado como um instrumento de manipulação ideológica, buscando legitimar uma agenda geopolítica que favoreça uma operação de “mudança de regime”, hostilidade e desconfiança nas relações internacionais.

A Venezuela está sob assédio militar e ameaça de guerra, por parte dos Estados Unidos, sob falsas acusações, como atesta a presença de belonaves nas proximidades de sua costa. O apoio internacional a figuras extremistas como Corina Machado, que tem um histórico de ações golpistas e antidemocráticas pode gerar o ambiente necessário para que as forças externas considerem a Venezuela como um alvo legítimo para uma intervenção, seja por meio de uma ação militar direta, seja através do apoio a distúrbios internos.

Nesse sentido, a premiação de Machado não é um reconhecimento de méritos, mas uma sinalização para o início de uma nova fase de tensões na Venezuela, com o risco de uma escalada violenta. A premiação de uma figura com o histórico de traições à pátria, com atos extremados contra governos democráticos legitimamente eleitos, que defende a intervenção externa contra o próprio país, não pode ser entendida como uma distinção pessoal, pois carrega consigo o risco de ser usada como um instrumento para justificar ações criminosas contra a soberania nacional.

O azar dos golpistas é que a Venezuela está preparada para o bom combate, em nome dos sagrados interesses do povo venezuelano.

 

FOTO: Bel Pedrosa/World Economic Forum

 

FONTE

https://www.brasil247.com/blog/premio-nobel-da-paz-a-maria-corina-machado-e-um-chamado-ao-golpe-e-a-agressao-contra-a-democracia-e-a-paz-na-venezuela