Associação Brasileira dos Jornalistas

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Só uma grande nação tem algo como o nosso SUS

Como o Sistema Único de Saúde transforma vidas, deixa estrangeiros boquiabertos e inspira o mundo.

Em uma tarde abafada em Paraty, no Rio de Janeiro, o jornalista americano Terrence McCoy, do The Washington Post, viu o mundo girar após um golpe acidental da porta do porta-malas na cabeça. O sangue escorreu, o pânico cresceu, mas o que veio depois foi uma revelação. Levado às pressas para um hospital público, McCoy passou por ambulância, tomografia, raio-X, seis pontos e medicação. O custo? Zero. “Ninguém perguntou pelo meu seguro de saúde. Ninguém pediu meu CPF. Seis horas depois, a conta: US$ 0”, relatou ele, estupefato, nas redes sociais. O que, nos EUA, custaria mais de R$ 50 mil era, no Brasil, um direito inquestionável.

Essa história não é um ponto fora da curva. O Sistema Único de Saúde (SUS), uma conquista cravada na Constituição de 1988, é uma constelação de esperança para 215 milhões de brasileiros e 2 milhões de estrangeiros residentes. Ele ilumina cada canto do país, mas nem sempre reconhecemos seu brilho. De tanto ver pessoas desinformadas com interesses escusos falarem mal do SUS, vou abordar aqui o porquê de o SUS ser tão importante para a sociedade brasileira, principalmente os milhões que formam a base de nossa pirâmide social.

Uma realidade que transforma – O SUS é mais que um sistema de saúde; é uma realidade palpável, fixa em nosso imaginário e na paisagem brasileira, tanto urbana quanto rural. Escrita na Constituição de 1988, a saúde como direito universal é um ideal que o Brasil ousou concretizar. Nenhum outro país com mais de 100 milhões de habitantes se aventurou a garantir atendimento gratuito a todos, sem distinção. “O SUS é a maior revolução da medicina brasileira”, afirmou a deputada Jandira Feghali em um post no X, ecoando o orgulho de quem vê o sistema como um pilar de justiça social.

Mas nem tudo é poesia. A gestão descentralizada, que distribui recursos entre estados e municípios, às vezes tropeça em desvios e má administração. “O grande problema é que o dinheiro chega, mas nem sempre vai para onde deve”, lamenta um usuário no X, refletindo o sentimento de muitos que reconhecem a grandeza do SUS, mas sofrem com suas falhas. A superlotação de hospitais, UPAs e UBSs é uma sombra que paira sobre o sistema, mas não apaga sua luz.

Histórias que cruzam fronteiras – Não foi só McCoy que se surpreendeu. Em 2025, uma americana do Texas, Bri, compartilhou sua experiência no SUS em um post no X. Atendida em apenas 20 minutos, sem pagar nada, ela escreveu: “Fiquei chocada! No Texas, isso nunca aconteceria”. Sua história reverberou, um lembrete de que o SUS não apenas cura, mas conecta mundos.

No Ceará, outro caso. Um enfermeiro americano, levado por um colega brasileiro ao Hospital Estadual Leonardo da Vinci, ficou boquiaberto. “É mais moderno que muitos hospitais nos EUA”, disse ele, impressionado com a tecnologia e a estrutura adquirida em 2020 pelo governo estadual. Referência em cirurgias complexas, o hospital é um exemplo do potencial do SUS quando bem gerido. Essas vozes estrangeiras ecoam o que muitos brasileiros sentem: orgulho misturado com frustração, esperança entrelaçada com desafios.

E há os relatos de dentro. Um brasileiro, recém-operado de apendicite, escreveu no X: “vi pessoas humildes recebendo tratamento com dignidade. Se não fosse o SUS, só Deus”. Outro celebrou as cirurgias complexas que salvaram seu irmão, tudo sem custo. “Temos que levantar as mãos para os céus por esse país”, exclamou. Essas histórias são fios de um tecido maior, costurado por um sistema que, mesmo imperfeito, não desiste de ninguém.

Um passado sem amparo – Antes do SUS, a saúde pública no Brasil era um painel muito colorido, fragmentado, um vazio onde milhões ficavam desamparados. Até 1988, o sistema era centrado no Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), que atendia apenas trabalhadores com carteira assinada, deixando 80% da população sem cobertura. Hospitais públicos eram escassos, e a saúde era um privilégio, não um direito. Doenças como sarampo e poliomielite grassavam, e a mortalidade infantil alcançava 85 por mil nascidos vivos em 1980, segundo o IBGE. O SUS mudou isso, reduzindo a taxa para 12 por mil em 2023, um salto que reflete sua capacidade de transformar vidas.

A engrenagem que move a nação – O SUS é uma máquina colossal. Presente em 5.570 municípios, cobre 100% do território brasileiro com 43 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 1,2 mil Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Ele oferece desde consultas preventivas até transplantes de órgãos, passando por vacinações, partos, cirurgias de alta complexidade e tratamentos oncológicos. Mais de 26.900 médicos atuam pelo programa Mais Médicos, enquanto o Farmácia Popular beneficia 24 milhões de pessoas com medicamentos gratuitos.

Os números impressionam. Em 2024, o Governo Federal destinou R$ 170 bilhões ao SUS, um aumento de 20% em relação a 2020, quando o orçamento era de R$ 141 bilhões. Esses recursos sustentam 3,7 milhões de empregos formais e atendem 75% da população brasileira, que depende exclusivamente do sistema público. É um esforço hercúleo, mas insuficiente para sanar filas e melhorar a gestão em algumas regiões.

A vacinação é um dos triunfos do SUS. Em 2024, o Brasil saiu da lista dos 20 países com mais crianças não vacinadas no mundo, graças a campanhas robustas. O programa de transplantes, referência mundial, realizou mais de 8.000 procedimentos em 2023. E o Samu, com suas ambulâncias cruzando o país, salvou incontáveis vidas em emergências. O SUS é um gigante que não dorme.

Países enviam técnicos para conhecer nosso SUS – O SUS é único, mas como ele se compara a outros sistemas? Nos EUA, a saúde é um mercado, não um direito. Em 2023, 27 milhões de americanos não tinham seguro de saúde, segundo o U.S. Census Bureau, e uma consulta básica pode custar US$ 200. O Affordable Care Act (Obamacare) ampliou o acesso, mas não universalizou o atendimento. Hospitais públicos são raros, e emergências, como a de McCoy, geram contas exorbitantes. O SUS, mesmo com filas, garante acesso irrestrito, algo impensável nos EUA.

No Chile, o sistema público, chamado FONASA, cobre 80% da população, segundo o Ministério da Saúde chileno, mas enfrenta desafios semelhantes aos do SUS: filas e subfinanciamento. Em 2024, o Chile investiu US$ 12 bilhões em saúde pública, proporcionalmente menos que os R$ 170 bilhões do SUS para uma população 10 vezes menor. Enquanto o SUS oferece transplantes e alta complexidade gratuitamente, no Chile, copagamentos são comuns, limitando o acesso dos mais pobres. O SUS, com suas falhas, ainda é um modelo de inclusão.

Outros países seguem o exemplo brasileiro. O Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido, criado em 1948, é um parente próximo, oferecendo atendimento universal gratuito. A África do Sul, com seu plano National Health Insurance (NHI), busca replicar o modelo brasileiro, mirando cobertura universal até 2030. Cuba, com seu sistema de saúde pública, também ecoa o SUS, priorizando prevenção e acesso irrestrito. Esses países veem a saúde como um direito, não um privilégio, mas o Brasil se destaca pela escala continental de sua operação. Não por acaso, vira e mexe, temos delegações de técnicos em saúde pública visitando o país para conhecer melhor nosso Sistema Único de Saúde. Temos mais que lindas cidades, futebol, carnaval e samba. Bem mais.

Aos olhos do mundo – O SUS é um espelho da alma brasileira: generoso, resiliente, mas marcado por contradições. Ele salva vidas, como a de McCoy, Bri e tantos outros, mas geme sob o peso da má gestão e da corrupção. “O SUS é maravilhoso, mas às vezes passo o dia esperando atendimento”, desabafa um usuário no X, capturando a dualidade de um sistema que é, ao mesmo tempo, milagre e desafio.

Nós, brasileiros, temos nas mãos a tarefa de proteger esse patrimônio. Fortalecer o SUS exige mais que recursos; demanda vigilância, gestão eficiente e um compromisso coletivo. Ele é o coração que pulsa vida em nossas veias, um sistema que acolhe o estrangeiro, ampara o humilde e desafia a lógica de um mundo onde saúde é mercadoria. O SUS é nosso, e cabe a nós fazê-lo bater mais forte.

Em 2025, com eventos globais como a COP 30 e a Cúpula do BRICS no horizonte, o Brasil estará sob os olhos do mundo. Que o SUS seja não apenas nossa conquista, mas nossa vitrine, um lembrete de que, mesmo em meio às tempestades, somos capazes de construir algo que inspira. Vamos cuidar dele. Vamos conhecer o SUS, esse gigante que, mesmo com algumas imperfeições, continua a salvar vidas e a nos ensinar o que significa ser humano.

FONTE

https://www.brasil247.com/blog/so-uma-grande-nacao-tem-algo-como-o-nosso-sus