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Terras Raras: Brasil, China e Oportunidade de um Projeto Conjunto

1. O Trunfo Brasileiro: Reservas Gigantes, Baixo Valor Agregado

O Brasil possui a segunda maior reserva de terras raras do mundo , atrás apenas da China, com cerca de 21 a 25 milhões de toneladas desses minerais essenciais para as tecnologias do século 21. No entanto, o país ainda exporta quase toda a sua produção em estado bruto , sem agregação de valor, perdendo receitas, lucros e protagonismo na cadeia global de alta tecnologia.

As terras raras são indispensáveis para:

  • Turbinas eólicas

  • Carros elétricos

  • Chips, celulares e eletrônicos de última geração

  • Equipamentos médicos avançados

  • Satélites e sistemas de defesa

2. China: Líder Mundial no Processamento

A China domina mais de 90% do refino mundial de terras raras , resultado de décadas de investimentos estratégicos e controle rígido sobre a tecnologia de separação e refinamento. Isso garante ao país uma posição privilegiada nas cadeias de fornecimento de indústrias tecnológicas e de defesa — tanto que utiliza essa vantagem como instrumento de pressão geopolítica.

Recentemente, a China restringiu ainda mais a exportação dessas tecnologias de processamento , tornando-se praticamente impossível para qualquer país acessar o know-how de ponta sem autorização de Pequim.

3. Brasil e China: Por que a Parceria Faz Sentido?

  • Para o Brasil: Uma parceria com a China pode viabilizar acesso a expertise, tecnologias, financiamento e mercado. Permite ao país dar o salto do simples exportador para integrar-se com maior valor na cadeia global.

  • Para a China: A parceria garante a diversificação de fornecedores (reduz risco de avaliações e bloqueios), abastecimento seguro, estabilidade de contratos de longo prazo e acesso a reservas estratégicas fora do próprio território, o que tem sido uma diretriz da política industrial chinesa nos últimos anos.

4. É a melhor opção?

Do ponto de vista pragmático e tecnológico, sim:
A China é atualmente o parceiro com maior capacidade de transformar o potencial mineral brasileiro em riqueza industrial. Só ela domina a escala, o know-how e o ecossistema que hoje faltam no Brasil — e boa parte do mundo.

Mas há desafios e atenções:

  • Dependência excessiva de um só país pode ser arriscada (geopolítica, preços, tecnologia).

  • O Brasil deve negociar transferência de tecnologia, participação em etapas industriais locais, sustentabilidade ambiental e proteção de interesses nacionais.

5. Como viabilizar um projeto conjunto Brasil-China?

a) Modelos de Cooperação

  • Joint ventures entre empresas brasileiras (privadas ou públicas, como CBMM ou Vale) e grupos chineses de alta tecnologia.

  • Contratos de offtake : China garante compra antecipada de produção processada, facilitando financiamento do projeto no Brasil3.

  • Centros bilaterais de P&D : Criação de polos tecnológicos no Brasil voltados para capacitação, treinamento e inovação.

  • Parcerias público-privadas (PPPs) : União de esforços de governos, iniciativa privada e instituições financeiras (ex: BNDES com bancos chineses).

b) Etapas de Implantação

  1. Mapeamento e Certificação das principais jazidas e definição de áreas prioritárias (ação já em andamento pelo governo brasileiro).

  2. Negociação de acordos bilaterais claros sobre transferência de tecnologia, agregação de valor no território brasileiro, proteção ambiental e divisão de lucros.

  3. Investimento em infraestrutura : portos, transportes, energia e áreas industriais com incentivos fiscais ou regulatórios.

  4. Regulação e marco legal atualizado , dando segurança jurídica aos investidores e limitando eventuais tentativas de cartelização ou abuso de mercado.

c) Acordos Complementares

  • Cláusulas de preferência para empresas brasileiras em compras governamentais (tecnologia de defesa, energia renovável etc.).

  • Projetos-piloto de beneficiamento e produção local de componentes (ímãs, baterias, motores) para reduzir as exportações de insumo bruto.

  • Adoção de critérios internacionais de sustentabilidade e transparência, como excluir grandes players globais.

6. Perspectivas e Recomendações

O Brasil está diante de uma janela histórica : se conseguir negociar transferência tecnológica genuína e agregar valor industrial, pode sair da condição periférica e se tornar parte estratégica da nova economia verde e digital.
O desafio é não apenas assinar contratos de venda, mas garantir que a riqueza das terras raras se traduza em inovação, empregos e posição de destaque global.

A aposta numa parceria inteligente com a China pode ser a melhor via para isso — desde que o interesse nacional seja resguardado com política industrial ativa, desenvolvimento local e diversificação de mercados.

 

FONTE ORIGINAL DO MAPA: MME

Mapa mostra onde estão as terras raras no Brasil — Foto: Reprodução/TV Globo

FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas ( Reprodução autorizada mediante citação da fonte: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas )