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A Crise da Hegemonia Americana e a Ascensão da Eurásia

Estamos vivenciando um momento histórico marcado por uma profunda crise da hegemonia americana, que se manifesta em múltiplas dimensões — econômica, política e geopolítica — e pela ascensão da Eurásia, liderada pela China e por blocos regionais emergentes. Essa transformação global traz consequências complexas e desafiadoras para a ordem internacional estabelecida desde o pós-Segunda Guerra Mundial.

Causas da Crise da Hegemonia Americana

1. Declínio do Poder Relativo dos EUA

Os Estados Unidos enfrentam uma crise de poder relativo, em que sua influência global está em declínio diante do crescimento econômico, militar e diplomático da China e de outras potências eurasiáticas. Esse declínio é resultado de décadas de superextensão militar, crises econômicas internas e desafios políticos estruturais que enfraquecem sua capacidade de projetar poder global de forma eficaz.

2. Superextensão Militar e Custos Econômicos

O envolvimento dos EUA em conflitos prolongados no Oriente Médio e outras regiões consumiu recursos financeiros e humanos significativos, contribuindo para o desgaste da máquina militar e para o aumento da dívida pública. Essa superextensão limita a capacidade americana de responder a novos desafios estratégicos, sobretudo na Ásia e na Eurásia.

3. Globalização Neoliberal e Financeirização

A globalização neoliberal, que teve os EUA como principal arquiteto, gerou crescimento econômico global mas também aumentou a desigualdade interna e a financeirização da economia americana. Isso resultou em fragilidades estruturais, como a perda de competitividade industrial e vulnerabilidades financeiras que se manifestam em crises como a de 2008 e riscos de recessão atuais.

4. Crise Política e Ideológica Interna

A polarização política crescente, a erosão de controles independentes sobre o poder executivo e a influência de lideranças populistas, como Donald Trump, fragilizam a governabilidade americana e dificultam a formulação de políticas externas coerentes. A volta de Trump ao poder promete um aumento do isolacionismo, do protecionismo e da retórica nacionalista, aprofundando a crise da hegemonia.

5. Guerra Comercial e Estratégia do Caos

A guerra comercial iniciada pelos EUA, especialmente contra a China, com tarifas elevadas e medidas protecionistas, reflete uma estratégia de “caos” para tentar conter o avanço chinês e manter a hegemonia global. Essa abordagem, porém, aumenta a incerteza econômica mundial, prejudica investimentos e comércio e eleva o risco de recessão global.

Ascensão da Eurásia

1. China como Potência Global Emergente

A China consolidou-se como a principal potência da Eurásia, com crescimento econômico robusto, avanço tecnológico e expansão militar. Diferentemente dos EUA, a China não se curvou integralmente às regras do mercado global neoliberal e busca construir uma ordem multipolar que desafia o domínio americano.

2. Integração Regional e Novos Blocos de Poder

Além da China, outras potências eurasiáticas, como Rússia, Índia e blocos regionais, fortalecem sua cooperação econômica e militar, criando alternativas à influência ocidental. Projetos como a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) ampliam a conectividade e o poder econômico da Eurásia, reduzindo a dependência do Ocidente.

3. Vácuo de Poder e Riscos Geopolíticos

Com o declínio da hegemonia americana e a ascensão da Eurásia, o mundo entra em um cenário de “G-zero”, em que nenhuma potência tem capacidade plena para liderar a agenda global ou garantir a estabilidade internacional. Esse vácuo aumenta o risco de conflitos, erros de cálculo e crises geopolíticas graves, comparáveis a momentos críticos da história, como os anos 19305.

Consequências Globais

1. Instabilidade Econômica Mundial

A combinação da guerra comercial, a desaceleração econômica americana e a incerteza política elevam o risco de recessão global, afetando mercados, cadeias produtivas e o custo de vida em todo o mundo, inclusive em países emergentes como o Brasil.

2. Escalada de Conflitos e Tensões

O risco de conflitos armados cresce, como evidenciado pela crise na Ucrânia e tensões no Indo-Pacífico. A competição entre potências pode levar a confrontos diretos ou por procuração, ameaçando a paz mundial.

3. Reconfiguração da Ordem Internacional

A ordem internacional liberal, construída sob liderança americana, está sendo desafiada e possivelmente substituída por uma ordem multipolar, com maior protagonismo da Eurásia e do Sul Global. Isso pode abrir espaço para novas alianças, mas também para maior competição e instabilidade.

4. Desafios para a Democracia e Governança Global

Nos EUA, a concentração de poder no executivo e a polarização política ameaçam a governabilidade democrática, enquanto no cenário global a ausência de liderança clara dificulta a cooperação internacional para enfrentar desafios como mudanças climáticas, pandemias e segurança cibernética.

Conclusão

A crise da hegemonia americana e a ascensão da Eurásia representam uma transformação profunda e complexa do sistema internacional. As causas são múltiplas e interligadas, desde fatores internos dos EUA até mudanças estruturais na economia e na geopolítica global. As consequências envolvem riscos elevados de instabilidade econômica e conflitos, mas também a possibilidade de uma nova ordem mundial mais plural e diversificada. O mundo está diante de um momento decisivo, em que decisões políticas e estratégicas terão impacto duradouro nas próximas décadas.

FONTE: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas

( Reprodução autorizada mediante citação da fonte: Agência de Notícias ABJ – Associação Brasileira dos Jornalistas )